segunda-feira, 29 de dezembro de 2014


Arrancam-se corações há anos, há séculos, desde sempre.
O coração tem fome, deslumbra-se com o prazer e satisfaz-se com a atracção, somos doentes das emoções fortes que nos fazem vibrar sempre que ele bate. Temos que lhe dar ritmo, de uma outra forma o silêncio torna-se no aborrecimento constante e aí, desejamos tudo o que não temos. Acho que somos pessoas do acaso que se encontram com outras por mero acaso, a vida é um percurso recheado de acasos, podes fantasiá-lo chamando coincidências, já eu, penso que tudo acontece por acaso. Reencontro, passado, futuro, incerteza, para que lhe damos importância? 
Não será tudo demasiado enfastiado quando procuramos o sofrimento vão?
Eu estou cansada de questões, aceito a saudade como quem aceita a vida, aceito que o meu coração precisa de velocidade furiosa, aceito arrancar corações e aceito que arranquem o meu como se estivesse numa guerra mundial. Com tanto coração a bater por aí, com tão curta existência, sou escrava do de tanto bater, o meu coração parou.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Tenho um coração para a troca. Troco-o pelo sossego do vazio, pela morte do ego em todas as terminações nervosas. Troco-o pela genitália, uma cabeça de falo do tamanho de um punho a bater como um tambor dentro do meu peito. Basta de exaltações do espírito, de cheiros que escravizam, de-lírios e girassóis a florir onde tudo arde, quando tudo se consome até à cinza. Quero um desfile de conas no baixo-ventre, sem qualquer deslumbre mágico, sem subtilezas nem acessos de ternura. É isso, uma parada de camaradas conas revolucionárias, das que marcharam no Carmo, em Selma e Tiananmen, fumando ventil, ventilando filtro, filtrando gigante, agigantando a minha indiferença. Conas marchantes empunhando sinais de coito, apregoando fodas que salvarão o mundo. Quero tudo isso, mas, acima de tudo, quero silêncio.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Arrancam-se corações como dentes cariados, subtracção cardíaca. Emo-músculos flácidos, entupidos com ilusões e galáxias exterminadoras, responsáveis pela queda de Werther, que abrem a porta a anjos caídos, que dão o fôlego arrítmico à desengonçada dança da vida. Este blog é o bisturi, o roubo pela dissecção, a vingança de Vian para além da cova.